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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O mercado do cristianismo - Por Márcio Salgues

Domingo é dia de marketing e proselitismo. Só em uma avenida próxima de onde moro há doze igrejas, entre católicas e evangélicas nas suas mais diversas ramificações, eu mesmo contei. Em outra das maiores avenidas do Recife há uma quantidade ainda maior de templos cristãos.

As faixas de pedestres se tornaram num palco ao ar livre a cada sinal vermelho, onde crianças carentes que fazem malabarismos com pedaços de cabos de vassouras - as mais experientes acendem as pontas desses paus fazendo as manobras com tochas - disputam espaço com religiosos imbuídos da tarefa de propagar o cristianismo. Em vários semáforos, duas pessoas estendem faixas com versículos bíblicos ou mensagens apocalípticas diante dos carros parados, enquanto o restante do grupelho segue distribuindo folhetos entre os motoristas e pessoas às janelas dos ônibus.O que não deixa de ser curioso sob a própria ótica cristã... Enquanto uns pedem comida, outros distribuem panfletos e lançam palavras ao vento, deixando de enxergar os mais necessitados bem ali ao seu lado.

A idéia básica é que todos pregam a mesma coisa: a salvação por meio de Jesus Cristo. Mas a prática mostra justamente, que predominam, em qualquer situação, as mesmas regras do neoliberalismo e da livre concorrência de mercado - no caso, o mercado de almas e contribuintes em potencial. Para tanto, qualquer diferencial é válido a fim de maximizar os benefícios oferecidos e minimizar as deficiências. Afinal, para que tantas denominações diferentes a poucos metros de distância se todos pregam a mesma coisa e tem o mesmo objetivo teoricamente?

Em um certo ponto existem três igrejas diferentes vizinhas. O "cliente-alma perdida" passa na frente, verifica as ofertas que variam de "loja" para "loja" - da simples hóstia aos mais mirabolantes milagres - é convidado a entrar, como numa grande feira livre, e seduzido - quando não induzido - a filiar-se àquela instituição. Algo como você entrar numa loja e o vendedor tentar lhe vender o produto a todo custo.

O mundo seria muito melhor se não houvessem surgido as tantas religiões, clamando ser portadoras da verdade, que temos hoje, e fosse regido tão somente pela razão e por uma ética universal. É lógico que isso é um delírio assim como a "Utopia" de Thomas Morus, pois o homem se diversifica culturalmente de forma constante. No livro "Deus e os homens", Voltaire, um dos maiores expoentes do iluminismo francês, nos diz que não houve idéia melhor que pudesse por um freio aos homens a fim de julgar seus sentimentos mais ocultos, do que a idéia de um deus que pune ou recompensa a cada indivíduo conforme seus atos.

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