
As faixas de pedestres se tornaram num palco ao ar livre a cada sinal vermelho, onde crianças carentes que fazem malabarismos com pedaços de cabos de vassouras - as mais experientes acendem as pontas desses paus fazendo as manobras com tochas - disputam espaço com religiosos imbuídos da tarefa de propagar o cristianismo. Em vários semáforos, duas pessoas estendem faixas com versículos bíblicos ou mensagens apocalípticas diante dos carros parados, enquanto o restante do grupelho segue distribuindo folhetos entre os motoristas e pessoas às janelas dos ônibus.O que não deixa de ser curioso sob a própria ótica cristã... Enquanto uns pedem comida, outros distribuem panfletos e lançam palavras ao vento, deixando de enxergar os mais necessitados bem ali ao seu lado.
A idéia básica é que todos pregam a mesma coisa: a salvação por meio de Jesus Cristo. Mas a prática mostra justamente, que predominam, em qualquer situação, as mesmas regras do neoliberalismo e da livre concorrência de mercado - no caso, o mercado de almas e contribuintes em potencial. Para tanto, qualquer diferencial é válido a fim de maximizar os benefícios oferecidos e minimizar as deficiências. Afinal, para que tantas denominações diferentes a poucos metros de distância se todos pregam a mesma coisa e tem o mesmo objetivo teoricamente?
Em um certo ponto existem três igrejas diferentes vizinhas. O "cliente-alma perdida" passa na frente, verifica as ofertas que variam de "loja" para "loja" - da simples hóstia aos mais mirabolantes milagres - é convidado a entrar, como numa grande feira livre, e seduzido - quando não induzido - a filiar-se àquela instituição. Algo como você entrar numa loja e o vendedor tentar lhe vender o produto a todo custo.
O mundo seria muito melhor se não houvessem surgido as tantas religiões, clamando ser portadoras da verdade, que temos hoje, e fosse regido tão somente pela razão e por uma ética universal. É lógico que isso é um delírio assim como a "Utopia" de Thomas Morus, pois o homem se diversifica culturalmente de forma constante. No livro "Deus e os homens", Voltaire, um dos maiores expoentes do iluminismo francês, nos diz que não houve idéia melhor que pudesse por um freio aos homens a fim de julgar seus sentimentos mais ocultos, do que a idéia de um deus que pune ou recompensa a cada indivíduo conforme seus atos.
Parabéns pelo post. Excelente e dá o que pensar.
ResponderExcluir