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sábado, 21 de julho de 2012

Soluções para o problema da Intolerância Religiosa - por Cristina Zecchinelli.


“Historicamente, a intolerância está presente na esfera das relações humanas fundadas em sentimentos e crenças religiosas. É uma prática que se autojustifica em nome de Deus; adquire o status de uma guerra de deuses encarnados em homens e mulheres que se odeiam e não se suportam.” ( Antonio Ozaí da Silva )
“De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta aos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus”.(José Saramago - O Fator Deus, 2001)

A intolerância religiosa é uma doença que de tempos em tempos torna-se epidêmica e precisa de tratamento continuado e prevenção. É um mal social, cuja cura passa pelo cumprimento da lei e pela educação. Um mal que atinge uma camada imensa da população global, que fere a dignidade humana, e a liberdade consciencial, que se baseia no preconceito, na discriminação e na pretensão de alguns em serem “os donos da Verdade”, que se sentem possuidores de alguma “procuração de Deus” para em seu nome, achincalhar, invadir, prender, torturar, matar, espoliar, e por fim,exterminar o outro.
E o outro é aquele a quem não se dá o direito de ter pensamento próprio, aquele a quem não se dá a liberdade de ser quem é, aquele que o intolerante julga intelectual e moralmente incapaz de fazer uma escolha “certa”. Porque qualquer escolha que não seja a sua - do intolerante- é errada.
Para se tentar acabar com a intolerância, é imprescindível tratá-la como doença, cujos remédios são a detecção e denúncia de sua existência, a exigência do cumprimento da Lei e, para prevenir sua recidiva e evitar o surgimento de novos casos; a execução uma ação intensiva e continuada de conscientização e educação plena de idosos, adultos, adolescentes e crianças; uma educação para a tolerância, para a compreensão, para a alteridade e o respeito. Num processo que envolva o comprometimento de toda a sociedade.
As justificativas dadas pelos intolerantes, principalmente pelos intolerantes religiosos vão desde a necessidade do cumprimento das “Leis de Deus” interpretadas e manipuladas a seu bel prazer, por interesses bem humanos e pouco religiosos - que no caso do Brasil desrespeitam a Constituição Federal – às questões de “segurança nacional” como ocorreu na América do Norte em relação ao Iraque.

A história nos mostra que a discriminação e a intolerância religiosa, foram e são responsáveis por guerras, fratricídios, genocídios, holocaustos, por divisões entre famílias e ódios milenares que são repassados e cultivados geração a geração por séculos, até que se percam da memória os reais motivos por que começaram. São frutos da manipulação política, social, econômica e ideológica. Criadas por mentes que anseiam pelo poder e a riqueza, tentam usurpar do Homem o direito e a capacidade de autogestão espiritual, de pensar e agir conforme suas próprias convicções, de avaliar por si mesmo o mundo em que vive.

A intolerância religiosa nasce da “fé cega” e não raciocinada de muitos dirigida pela astúcia de uns poucos que se aproveitam dos fiéis para obter poder, riqueza e vingança. Vingança quanto àquilo que não encontram em si mesmos, resultante da inveja, do ressentimento e da incapacidade de ser verdadeiro, original, de encarar de frente a luta para se ver livres de suas fraquezas, de agir com liberdade, de ser feliz . Nasce do desejo de destruir no outro aquilo que mais se admira, porém não se tem força, determinação, ousadia ou poder para ser.

A intolerância nasce da mesquinhez humana, do medo de ser, de fazer-se Ser, de ousar, de arriscar o novo, de pensar, questionar e refletir sobre o que já está estabelecido. Nasce da aceitação rancorosa das regras e dogmas contra os quais não se tem coragem de lutar, levantar a voz ou a dúvida.

Busque-se o intolerante e encontrar-se-á uma mente fechada, um espírito enrijecido, ressentido, engessado por sua própria deturpação da realidade. E que por isso mesmo precisa manipular o mundo à sua volta de modo a sentir-se seguro; convencendo esse mesmo mundo da necessidade de fechar-se em dogmatismos, fundamentalismos e fanatismos. Levando o fiel a um não-pensar, condicionando-o a um pensamento único e repetitivo, ao jugo de uma mentalidade tão estreita que dela não possa libertar-se e ao convencimento de que assim terá uma parte desse poder para si.

É certo que as massas se inflamam e se deixam levar por um bom orador. Não faltam exemplos na história. Sabemos que a repetição de uma inverdade não faz com que ela se torne “a Verdade” porém, pode levar muitos a crer que assim o seja.

Se o gérmen do fanatismo é individual, talvez presente de forma latente no Homem, se ele pode ser despertado e cultivado através do convencimento, da incitação, da repetição e do incutir continuado da idéia de estar cumprindo uma “missão sagrada”, um “designo divino” que pode livrar o homem do inferno e levá-lo ao paraíso; por outro lado há no ser humano toda uma generosidade, uma capacidade de empatia e de compreensão, de amor e fraternidade que precisa ser trabalhada quotidianamente em prol do bem comum, do cumprimento da lei, da tolerância religiosa e da liberdade.

Para se tentar acabar com a intolerância faz-se necessária uma ação de conscientização e educação plena de anciãos, adultos, adolescentes e crianças. Uma educação para a tolerância, para a compreensão, a alteridade e o respeito. Num processo que envolva o comprometimento de toda a sociedade. Idéia muito bem explicitada por Nelson Mandela:
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”


Fonte: http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/1980410:BlogPost:57996

Diversidade Religiosa e Direitos Humanos - SEDH parte 01 e 02.

Vale a pena conferir esses vídeos:

sábado, 2 de julho de 2011

Igreja Gay: uma vergonha para os evangélicos!


Esse texto é de Hermes Fernandes e achei interessante compartilhar com todos, pois o tema está em foco na mídia e por esse texto ser de autoria de um evangélico.


No dia 27 de Novembro de 2010, uma das rádios evangélicas de maior popularidade do Brasil exibiu um debate sobre homossexualismo. Entre os participantes estavam o Pr. Silas Malafaia, o Desembargador Fábio Dutra, o Pr. Paulo Afonso, o Pr. Augusto Miranda, o Pr. Paulo César e o Pr. Marcos Gladstone. Este último é líder da Igreja Contemporânea do Rio de Janeiro, conhecida como "igreja gay".
Gladstone é homossexual assumido, e declara ser casado com seu companheiro e também pastor Fábio Inácio. O debate poderia ter sido muito proveitoso, caso não houvesse alguns momentos desrespeitosos, onde as partes se atacaram mutuamente.
Silas, como sempre, vociferou suas opiniões sem o menor recato, chegando ao cúmulo de referir-se aos seus opositores que assistiam no auditório da rádio como "bonecas". No final, retratou-se, sabendo que isso poderia lhe render uma ação jurídica. Se todos mantivessem a linha, muitas coisas poderiam ter sido esclarecidas. Oportunidade desperdiçada. Tive pena do Gladstone. Embora discorde de seus posicionamentos, acho que ele merece respeito, como qualquer ser humano.

Silas disse que não há igreja evangélica gay, nem tampouco "pastor gay". Gladstone, para revidar, afirmou que era pastor reconhecido pela Federação de Teólogos do Brasil (ou algo do gênero). Um dos momentos mais curiosos foi quando Gladstone afirmou que muitos pastores e filhos de pastores já o procuraram em sua igreja, confessando que eram gays. Não duvido nada! Conheço o caso em que um pastor foi flagrado sentado no colo de um obreiro.
Definitivamente, a igreja evangélica brasileira não está preparada para discutir um assunto tão polêmico como este. Falta maturidade, finesse, e sobretudo, amor. Por que acho que é uma vergonha para os evangélicos que haja uma igreja gay? Simples. Esta igreja só surgiu para preencher uma lacuna deixada pela igreja evangélica. Se os gays fossem acolhidos em nossas comunidades, a fim de que fossem expostos à Palavra de Deus, eles não teriam qualquer razão para buscar uma igreja dedicada exclusivamente a eles.

Não estou dizendo que as igrejas deveriam legitimar sua conduta. Não! Apenas afirmo que devemos ser mais misericordiosos, compassivos, agindo mais ou menos como nosso Mestre agiria. Me recuso a acreditar que Jesus os rechaçaria. Também não acredito que Ele estimularia que Seus seguidores se entrincheirassem contra os homossexuais, como tem sido feito. Tornamo-nos seus inimigos número 1. Como poderemos evangelizá-los? Como poderemos conduzi-los aos pés do Salvador? Será que somos melhores do que eles? Será que nossa avareza, idolatria, inveja, carnalidade, ocupam um lugar de menor importância dentro da lista de pecados condenados pela Palavra? Sinceramente, creio que a Igreja deveria se manifestar solidária a todo grupo humano minoritário que buscasse ser respeitado. Sem endossar qualquer que fosse a conduta pecaminosa, deveríamos comprar uma briga pelas prostitutas, homossexuais, seguidores das religiões afro-brasileiras, ciganos, etc.

Te escandalizei?

Pois o Cristo a quem sirvo também escandalizou os religiosos pudicos de Sua época ao colocar-se em defesa da mulher adúltera, desmascarando a pseudosantidade dos religiosos que queriam apedrejá-la. Tornamo-nos tão diferentes de Jesus. Estamos sempre do lado errado. Do lado dos poderosos, dos mantenedores do Status Quo, dos corruptos, dos salafrários. Repito: não acho que devemos baratear a mensagem do Evangelho, endossando qualquer conduta que não se coadune com seus valores e princípios.
Porém, acredito que devemos usar de misericórdia, tanto quanto dela necessitamos. Afinal, são os misericordiosos que alcançarão misericórdia. Ao xingar seus oponentes de 'bonecas', ou 'meninas', Silas Malafaia revelou o lado preconceituoso daqueles a quem ele julga representar. Foi um desserviço à causa do Evangelho. Nunca vi ninguém se converter no calor de uma discussão. Se queremos ser respeitados, devemos, antes de tudo, respeitar, mesmo o mais vil pecador. Não somos melhores do que eles. Que tal se olharmos para nós mesmos como fez Paulo, que considerou-se o principal dos pecadores? Que tal se deixarmos de olhar para o outro de cima pra baixo, e considerar-nos igualmente carentes da graça de Deus?
Que o Projeto de Lei 122 precisa de ajustes, não resta dúvida. Mas não será com xingamentos e ataques que vamos reverter isso. O que não se pode negar é que o debate serve mesmo é a interesses políticos daqueles que se fiam na ingenuidade do povo evangélico para se elegerem. Igreja nenhuma deveria sentir-se ameaçada por qualquer que seja a PL. Faz-se um escarcel danado para que os crentes pensem que a tal "ditadura gay" vai obrigar às igrejas a aceitarem e celebrarem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E assim, os propineiros vão se elegendo e agradecendo ao deus Mamom pelas "graças" recebidas.
Bem... Esta é minha humilde opinião. Você tem todo o direito de discordar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ateísmo militante!


No decorrer da campanha presidencial afirmei, em artigo sobre Dilma Rousseff, que ela nada tem de “marxista ateia” e que “nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar com violência os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte".

O texto provocou reações indignadas de leitores, a começar por Sr. Gerardo Xavier Santiago e Daniel Sottomaior, dirigentes da ATEA (Associação Nacional de Ateus e Agnósticos).

Desfruto da amizade de ateus e agnósticos e pessoas que professam as mais diversas crenças. Meus amigos ateus leram o texto e nenhum deles se sentiu desrespeitado ou comparado a torturadores.

O que entendo por “ateísmo militante”? É o que se arvora no direito de apregoar que Jesus é um embuste ou Maomé um farsante. Qualquer um tem o direito de descrer em Deus e manifestar essa forma negativa de fé. Não o de desrespeitar a crença de cristãos, muçulmanos, judeus, indígenas ou ateus.

A tolerância e a liberdade religiosas exigem que se respeitem a crença e a descrença de cada pessoa. Defendo, pois, o direito ao ateísmo e ao agnosticismo. Minha dificuldade reside em acatar qualquer espécie de fundamentalismo, seja religioso ou ateu.

Sou contrário à confessionalidade do Estado, seja ele católico, como o do Vaticano; judeu, como Israel; islâmico, como a Arábia Saudita ou ateu, como a ex-União Soviética. O Estado deve ser laico, fundado em princípios constitucionais e não religiosos.

Não há prova científica da existência ou inexistência de Deus, lembrou o físico teórico Marcelo Gleiser no encontro em que preparamos o livro “Conversa sobre Ciência e Fé” (título provisório) que a editora Agir publicará nos próximos meses. Gleiser é agnóstico.

Assim como não tenho direito de considerar alguém ignorante por ser ateu, ninguém pode “chutar a santa” (lembram do caso na TV?) ou agredir a crença religiosa de outrem. Por isso, defendo o direito ao ateísmo e me recuso a aceitar o ateísmo militante.

Advogar o fim do ensino religioso nas escolas, a retirada dos crucifixos nos lugares públicos, o nome de Deus na Constituição e coisas do gênero, nada têm de ateísmo militante. Isso é laicismo militante, que merece minha compreensão e respeito.

O Deus no qual creio é o de Cristo, conforme explicito no romance “Um homem chamado Jesus” (Rocco). É o Deus que quer ser amado e servido naqueles que foram criados “à sua imagem e semelhança” – homens e mulheres.

Não concebo uma crença abstrata em Deus. Não presto culto a um conceito teológico. Nem me incomodo com os deuses negados por Marx, Saramago e a ATEA. Também nego os deuses do capital, da opressão e da Inquisição. O princípio básico da fé cristã afirma que o Deus de Jesus é reconhecido no próximo. Quem ama o próximo ama a Deus – ainda que não creia. E a recíproca não é verdadeira.

Ateísmo militante é, pois, profanar o templo vivo de Deus: o ser humano. É isso que praticam torturadores, opressores e inquisidores e pedófilos da Igreja Católica. Toda vez que um ser humano é seviciado e violentado em sua dignidade e direitos, o templo de Deus é profanado.

Prefiro um ateu que ama o próximo a um devoto que o oprime. Não creio no deus dos torturadores e dos protocolos oficiais, no deus dos anúncios comerciais e dos fundamentalistas obcecados; no deus dos senhores de escravos e dos cardeais que louvam os donos do capital. Nesse sentido, também sou ateu.

Creio no Deus desaprisionado do Vaticano e de todas a religiões existentes e por existir. Deus que precede todos os batismos, pré-existe aos sacramentos e desborda de todas as doutrinas religiosas. Livre dos teólogos, derrama-se graciosamente no coração de todos, crentes e ateus, bons e maus, dos que se julgam salvos e dos que se creem filhos da perdição, e dos que são indiferentes aos abismos misteriosos do pós-morte.

Creio no Deus que não tem religião, criador do Universo, doador da vida e da fé, presente em plenitude na natureza e nos seres humanos.

Creio no Deus da fé de Jesus, Deus que se aninha no ventre vazio da mendiga e se deita na rede para descansar dos desmandos do mundo.

Deus da Arca de Noé, dos cavalos de fogo de Elias, da baleia de Jonas. Deus que extrapola a nossa fé, discorda de nossos juízos e ri de nossas pretensões; enfada-se com nossos sermões moralistas e diverte-se quando o nosso destempero profere blasfêmias.

Creio no Deus de Jesus. Seu nome é Amor; sua imagem, o próximo.

Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de “Mística e Espiritualidade” (Vozes), entre outros livros.

domingo, 15 de maio de 2011

O futuro se tornou...

O futuro se tornou a região do horror, e o presente se converteu num deserto. As sociedades liberais giram, giram, mas não avançam, só se repetem. Se mudam, mas não se transfiguram. O hedonismo do Ocidente é a outra face do seu desespero;  O lugar vazio deixado pelo cristianismo nas almas modernas não foi ocupado pela filosofia, mas pelas superstições  grosseiras. Nosso erotismo é uma técnica, não uma arte ou uma paixão.


Sobre o autor: Octavio Paz
Octávio Paz Lozano foi um poeta mexicano, nascido na Cidade do México, em 1914, e faleceu em 1998. Foi notabilizado por seu trabalho prático e teórico no campo da poesia moderna ou de vanguarda.  Recebeu o Nobel de Literatura de 1990 , é considerado um dos maiores escritores do século XX e um dos grandes poetas hispânicos de todos os tempos.
Fonte: http://www.tvcultura.com.br/provocacoes/poemas

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

TV e Religião: em nome de Deus?

Em nome de Deus?

Por João Brant em 24/2/2011
Reproduzido do Brasil de Fato nº 416, de 23/2/2011

Ligar a televisão no horário nobre e ver um líder religioso utilizando o espaço para pregar e buscar fiéis é algo que parece fora do lugar. E é. Não por ser uma manifestação religiosa, algo que é parte da cultura brasileira, mas por tornar evidente que um espaço público está sendo utilizado para fins privados.

O mundo todo discute como equilibrar os direitos à liberdade de expressão e à liberdade de crença, previstos em diversas Constituições, inclusive na brasileira. Há várias questões aí envolvidas. Primeiramente, manifestações religiosas devem ou não ser permitidas em veículos de comunicação que são concessões públicas, como rádio e TV? Se sim, deve ser permitido também o proselitismo religioso, ou seja, a prática de tentar "vender seu peixe" e conquistar fiéis?

Na busca de respostas, é preciso pensar como esse tipo de manifestação ajuda ou afeta a liberdade de crença – que é maior do que a liberdade religiosa e inclui até o direito de não se ter religião. E lembrar que, para outras manifestações similares, como o proselitismo político, já há um consenso sobre a necessidade de regras claras para que espaços públicos não sejam tomados por grupos específicos.

Apropriação indevida

No caso das religiões, deve-se perguntar, também, como garantir às distintas manifestações de fé o mesmo direito, já que não chegam a 2% as denominações religiosas presentes no Brasil que têm espaço em meios de comunicação. Deve-se também impedir que esses espaços sejam usados para ataques a outras religiões, como os que sofrem as denominações de matriz africana.

E há questões estruturais também fundamentais. Deve-se permitir canais inteiramente controlados por grupos religiosos, o que é proibido na maioria das democracias? Deve-se permitir o arrendamento de espaço – ou mesmo de canais inteiros – no rádio e na TV? Será que essa prática não configura uma verdadeira grilagem eletrônica, pela apropriação privada de um espaço público? Sejam quais forem as respostas, o nome de Deus não pode ser usado como álibi para evitar esse debate no Brasil.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Por favor céticos e crentes, parem de encher o saco uns dos outros. Obrigado.


Olá amigos! Como foram as festas de final de ano? Espero que tenham sido boas. Espero também que você não tenha estragado o natal de ninguém com babaquices.

Espero que você, cético, não tenha feito aquele discurso a respeito de como o natal é uma festa de origem pagã e que a árvore é isso e o papai noel é aquilo e Jesus não tem nada a ver com isso e blá blá blá. Ou pior ainda: você se recusou a comemorar esse feriado cristão promovido pela igreja que foi responsável pelas Cruzadas e a Inquisição e não-sei-o-quê. Você não é só um chato, você é também um imbecil. Eu quero mais é que as Cruzadas que se fodam, eu quero presente e comida boa!

Mas você, você cristão que quando tá todo mundo lá curtindo a ceia fala “gente, mas não vamos esquecer pra quem é essa festa né? Vamos pedir as bença ao Menino Jesus que Deus abençoe a todos e o amor de Maria derrame sobre a Terra com a ajuda do Espírito Santo e que os anjo ali babá shamalabalae shamalaabalada shabatcaladá…”

Vocês precisam parar de ser tão chatos.

Eu lembro bem dos natais em que ainda acreditava no Papai Noel. Eu ganhava presentes dos meus pais durante o resto do ano, mas o presente de natal era melhor, porque era um presente mágico e grátis! Aí veio um chato e um dia me contou que na verdade não tinha esse negócio de Papai Noel, que eram meus pais que compravam o presente… em dois minutos de conversa eu percebi que era verdade: era ridículo pensar que um velhinho mágico dava brinquedos Estrela pra todas as crianças do mundo. E foi assim que meus natais perderam um tanto da graça.

A mesma coisa acontece quando você percebe que deus não existe. Veja bem: não é que eu não acredito em deus, é que ele não existe mesmo. O crente (e quando eu digo crente é no sentido de “crer”, não de “evangélico”… me sinto ridículo tendo de explicar algo tão óbvio, mas nunca se sabe) não entende isso. Não entende que não é uma questão de querer acreditar. Eu, particularmente, queria muito poder acreditar que quando eu morresse eu ia encontrar todo mundo que eu gosto e que morreu antes de mim e que eu vou viver pra sempre e tudo o mais (seja o “tudo mais” uma versão carola de Alphaville, sejam 72 virgens), mas infelizmente não posso.

Agora você, cético chatão, por que você tem que ficar querendo contar que o papai noel não existe pra quem acredita nele? Não faça mais isso, amigo! Deixa a pessoa ser feliz, acreditando que quando ela morrer vai ser maravilhoso, que tudo tem uma razão de ser, que quem fez mal aqui vai “pagar do outro lado”. Ela só vai descobrir que estava errada quando morrer! Quer dizer, ela não vai descobrir, porque vai estar morta. “Ah mas a igreja tira o dinheiro e ilude as pessoas!” Quem nunca gastou dinheiro com bobagem? Quem nunca comprou algo que acabou nunca usando? Melhor gastar com dízimo que com ingresso pra stand-up do Rafinha Bastos!

E você crente, você que fica achando que vai convencer alguém a acreditar em deus: desista, você parece uma criança tentando convencer um adulto de que o Papai Noel existe.

Autor: @ibere

Pimenta nos Olhos dos Outros, Ateísmo e Religião

Por William Douglas*


A campanha que a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) vem promovendo, em ônibus, nos grandes centros urbanos do país merece alguns comentários. Aplaudo a ideia de combater o preconceito contra ateus e agnósticos, aliás, como aplaudo qualquer evolução no sentido da mais ampla liberdade religiosa, o que inclui o direito de crença e o de não crença.


Contudo, a ideia, que é boa, foi muito mal executada. A ATEA conseguiu repetir os erros mais comuns dos maus religiosos.
Um banner da campanha afirma: "Religião não define caráter"; coloca a foto de Chaplin acompanhada da frase: "Não acredita em Deus", e a de Hitler, com a frase: "Acredita em Deus". Lamentável a parcialidade tão criticada nos religiosos ser repetida de forma tão grosseira. Por que não se colocou junto de Chaplin, um bom homem, a de Pol Pot, Stalin ou Mao Tse Tung, reconhecidos assassinos de milhões e que eram ateus? Teria sido mais honesto, mas optou-se apenas por mostrar um bom ateu. E quanto a Hitler? Por que não se colocou ao lado dos teístas, Madre Teresa? Ou o muçulmano Saladino, que respeitou igrejas cristãs e sinagogas mesmo após todas as crueldades que outras religiões cometeram contra as mesquitas? Ou o hindu Gandhi? A campanha teria sido muito mais feliz se mostrasse que em todas as crenças, ou mesmo sem elas, temos boas e más pessoas. Isso teria sido mágico.


Não é atacando o teísmo que alguém irá conseguir o respeito para o ateísmo, ao contrário. A reclamação da ATEA de que alguns veículos se recusaram a veicular as campanhas, ignora o fato de que as razões da recusa podem não ter sido o preconceito contra os ateus, que é errado, mas a recusa em se fazer uma campanha que se mostrou parcial e deselegante. As frases e ideias escolhidas são tão preconceituosas que parece que a defesa é a de que "preconceito ruim é só aquele que nos atinge".


Não sei de onde saiu a frase: "A fé não dá respostas, só impede perguntas." Apenas um grande desconhecimento da religião dos outros pode dizer que a fé impede perguntas. Ao menos na minha, desde os profetas até o próprio Jesus, as perguntas são livres, e muitas, e incentivadas. E dizer que a fé não dá respostas também é preconceituoso: se as respostas não agradam a alguns nem por isso deixam de ser respostas para aqueles que, como eu, ficaram satisfeitos com elas. Mais que isso, traz a foto de uma pessoa encarcerada, como se todos os que tivessem fé fossem encarcerados... o que realça a postura arrogante, comum a muitos ateus e teístas: a de que apenas o que eles mesmos creem ou deixam de crer é a verdade. Por fim, mostra desconhecer (ou querer ignorar) quantos foram os encarcerados que saíram da vida de crimes pela intervenção dos movimentos religiosos dos mais variados matizes. As grandes universidades de hoje começaram, anote-se, de movimentos religiosos. Dizer que não temos respostas e que impedimos as perguntas é, no mínimo, falta de informação. Não crer nas respostas da fé é uma coisa, dizer que elas não existem é outra.


A foto do ataque de 11 de Setembro ao lado da frase: "Se Deus existe tudo é permitido" é desonesta. Primeiro, pois escolhe dentro do islamismo uma linha que o próprio islamismo, em grande parte, critica. Em suma, a ATEA escolheu o que a religião tem de pior para falar mal da religião. Ao invés de ir contra o preconceito, repetiu-o.


A citação da frase: "Se Deus existe tudo é permitido" me pareceu, no mínimo, deselegante, pois é exatamente o contrário da conclusão a que se pode chegar do que Dostoievski escreveu no romance Os Irmãos Karamázov: "Se Deus não existe, tudo é permitido". Ou estamos diante de desconhecimento ou de um aproveitamento de frase com a inversão do seu sentido, o que seria, no caso, o pior dos plágios.


Enfim, preconceito, desconhecimento, arrogância, uso invertido de frase conhecida e parcialidade, para não ir muito longe. Conheço amigos ateus que devem ter se sentido muito mal representados por esta campanha, assim como me sinto muito mal representado, na qualidade de quem acredita em Deus, por Hitler e por terroristas (escolha feita pela ATEA para criticar o preconceito).


Uma pena que, ao invés do alto nível intelectual e pluralista de tantos ateus que eu conheço, a campanha, tão boa em seu propósito, tenha sido desastrosa na sua execução, como se o seu fim fosse dizer: "Aceitem-nos! Nós conseguimos ser tão preconceituosos e agressivos quanto vocês". O lamentável é que a campanha ignorou bons exemplos de tolerância, esclarecimento e educação, tanto no ateísmo quanto na religião.


William Douglas é Professor, juiz federal/RJ e escritor. Mestre em Direito/UGF, especialista em Políticas Públicas e Governo - EPPG/UFRJ, http://www.williamdouglas.com.br

domingo, 9 de janeiro de 2011

Dilma tira crucifixo do gabinete. Falta o resto do país!


A Folha de S. Paulo, deste domingo, traz a informação de que a presidenta Dilma Rousseff, em sua primeira semana de trabalho, retirou o crucifixo da parede de seu gabinete e a bíblia de sua mesa. Foi uma medida simples, mas carregada de um simbolismo que surpreende.
Defendo fortemente que o exemplo seja seguido por todos os que ocupam cargos públicos no país. Dilma afirmou ser católica durante as eleições (ok, como disse na época, eu ainda aposto que ela e José Serra são, no limite, agnósticos – mas vá lá), mas não foi eleita para representar apenas cristãos e sim cidadãos de todas as crenças – inclusive os que acreditam em nada.
A questão da retirada de crucifixos, imagens e afins de repartições públicas gerou polêmicas ao longo da história a partir do momento em que um Estado se afirma laico (e não desde o lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, como querem fazer crer o pessoal do “não li, mas não gostei”). A França retirou os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século 19. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então.
Em janeiro do ano passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lançou uma nota em que rejeitou “a criação de ‘mecanismos para impeder a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União’, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas”.
Adoro quando alguém apela para as “raízes históricas” para discutir algo. Na época, lembrei que a escravidão está em nossas raízes históricas. A sociedade patriarcal está em nossas raízes históricas. A desigualdade social estrutural está em nossas raízes históricas. A exploração irracional dos recursos naturais está em nossas raízes históricas. A submissão da mulher como reprodutora e objeto sexual está em nossas raízes históricas. As decisões de Estado serem tomadas por meia dúzia de iluminados ignorando a participação popular estão em nossas raízes históricas. Lavar a honra com sangue está em nossas raízes históricas. Caçar índios no mato está em nossas raízes históricas. E isso para falar apenas de Brasil. Até porque queimar pessoas por intolerância de pensamento está nas raízes históricas de muita gente.
Quando o ser humano consegue caminhar a ponto de ver no horizonte a possibilidade de se livrar das amarras de suas “raízes históricas”, obtendo a liberdade para acreditar ou não, fazer ou não fazer, ser o que quiser ser, instituições importantes trazem justificativas fracas como essa, que fariam São Tomás de Aquino corar de vergonha intelectual. Por outro lado, o pessoal ultraconservador tem delírios de alegria.
A ação da presidenta não foi a única. Em 2009, o Ministério Público do Piauí solicitou a retirada de símbolos religiosos dos prédios públicos, atendendo a uma representação feita por entidades da sociedade civil e o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro mandou recolher os crucifixos que adornavam o prédio e converteu a capela católica em local de culto ecumênico. Algumas dessas ações têm vida curta, mas o que importa é que percebe-se um processo em defesa de um Estado que proteja e acolha todas as religiões, mas não seja atrelado a nenhuma delas.
É necessário que se retirem adornos e referência religiosas de edifícios públicos, como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Não é porque o país tem uma maioria de católicos que espíritas, judeus, muçulmanos, enfim, minorias, precisem aceitar um símbolo cristão em um espaço do Estado. Além disso, as denominações cristãs são parte interessada em várias polêmicas judiciais – de pesquisas com célula-tronco ao direito ao aborto. Se esses elementos estão escancaradamente presentes nos locais onde são tomadas as decisões sem que ninguém se mexa para retirá-las, como garantir que as decisões serão isentas?
Como já disse aqui antes, o Estado deve garantir que todas as religiões tenham liberdade para exercer seus cultos, tenham seus templos, igrejas e terreiros e ostentem seus símbolos (tem uma turma dodói da cabeça que diz que isso significaria a retirada do Cristo Redentor do morro do Corcovado – afe… por Nossa Senhora!). Mas não pode se envolver, positiva ou negativamente, em nenhuma delas. Estado é Estado. Religião é religião.
Como é difícil uma democracia respeitar suas minorias.
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/01/09/dilma-tira-crucifixo-do-gabinete-falta-o-resto-do-pais/