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segunda-feira, 29 de março de 2010

Religião e Espiritualidade - Por Frei Betto

A espiritualidade é, como também é a sexualidade, uma dimensão constitutiva do ser humano. Essa potencialidade neurobiológica pode ou não ser cultivada. Uma pessoa desprovida de espiritualidade prescinde da percepção da profundidade de sua subjetividade. Nela, os desejos prevalecem sobre os ideais.
À primeira vista, a espiritualidade opõe-se à materialidade. E o espírito se opõe ao corpo. Mas esse dualismo platônico já está maisque superado, tanto pela ciência quanto pela teologia. Somos todos e tudo uma unidade.
A espiritualidade prescinde das religiões, pode ser vivida sem elas, e há também religiões desprovidas de qualquer espiritualidade, asfixiadas pelo peso do doutrinarismo autoritário.

Hoje, o que está em crise não é a espiritualidade. São as formas tradicionais de religião. Nesse mundo secularizado, desencantado, os valores são substituídos pelas ciências; o ser pelo ter; o ideal pelo desejo; o altruísmo pelo consumismo. Assim, a religião reflui para a vida privada e os locais de culto. E deixa de influir na vida social.

A crise da Cristandade, no Renascimento, não significou a crise do Cristianismo. Da mesma maneira, a crise que atinge as religiões não pode ser confundida com a da espiritualidade. Agora nos deparamos com uma espiritualidade pós-religiosa, centrada na autonomia do indivíduo.

O que caracteriza essa espiritualidade pós-moderna é, de um lado, a busca, não do outro, mas de si, da tranquilidade espiritual, da paz do coração.
É uma espiritualidade centrada no próprio ego. De outro, uma espiritualidade política, voltada à promoção da justiça e da paz, comprometida com a ética e com a proteção do meio ambiente.

Ateísmo versus religiosidade - quem tem razão? Por pascoalnaib

Hoje em dia o que mais se comenta é num novo embate Ciência vs Religião e observamos isso pelos mais variados títulos principalmente de ateístas com livros entre os mais vendidos. Aqui vale até uma reflexão sobre esse fenômeno: existe só essas duas linhas de embate? Vivemos num maniqueísmo pós-moderno dos que crêem e dos que não crêem? São as duas classes tão firmemente estruturadas para chegarmos nessa conclusão?

Bem, sinceramente não me enquadro nesses dois extremos e por vezes acho muito danoso tal tipo de atitude. Acredito que o radicalismo tanto religioso como cético apenas aprofundam os problemas e fecham diversas portas para o diálogo e para a superação de equívocos de ambas as partes.


Observamos que o uso da Bíblia ou de qualquer outro livro sagrado pode se adaptar a qualquer estilo, ou seja, posso realizar grandes obras de caridade mediante a “palavra” como podem ser efetuados os mais vis massacres.


É interessante que
Michael Onfray em seu livro “Tratado de Ateologia” comenta esse aspecto da religião. Ele estava numa visita ao Oriente Médio e conversava com seu motorista que era mulçumano sobre o Alcorão, depois de muita conversa ele chegou a seguinte conclusão:

“Não lhe agrada que um não-mulçumano leia o Corão e refira-se a esta ou aquela surata para dizer-lhe que ele tem razão quando são selecionados os versículos que o confortam, mas que há textos nesse mesmo livro que dão razão ao combatente armado cingido pela faixa verde dos seguidores da causa, ao terrorista do Hezbollah carregado de explosivos”.


Mais na frente ele complementa sobre esse assunto:

“O mesmo livro justifica, no entanto, esses dois homens que avançam nos antípodas da humanidade: um pende para a santidade, os outros realizam a barbárie”.


É possível a religião contribuir com um mundo melhor?
Hoje alguns céticos condenam a religião como um mal a ser eliminado, não vêem contribuição nenhuma para sua existência, mas será que isso não é radicalidade demais? Já muitos segmentos fundamentalistas da religião se fecham em seu mundo de sonhos e loucuras e acham que tudo fora dos livros sagrados deve ser combatido.
Esse é um tema interessante de se abordar.